ANAIS :: 30º EIA - Bauru/SP - 2015 - ISSN : 1983-179X
Resumo: 053

Investigação


053

Efeito combinado de ruído e solventes para a perda auditiva

Autores:
MEIRA, T.C.1, SANTANA, V.S.1, FERRITE, S.1
1 UFBA - Universidade Federal da Bahia

Resumo:
Resumo Simples

Introdução: A perda auditiva causada pelo ruído se mantém entre os principais agravos em Saúde do Trabalhador, estando em segundo lugar no ranking de anos perdidos por incapacidade em decorrência dos fatores ocupacionais. Contudo, outros fatores também podem desencadear alterações auditivas, em especial os solventes, que podem agir potencializando os efeitos do ruído para a audição. Objetivo: Investigar o efeito combinado da exposição a ruído e solventes para a perda auditiva em trabalhadores. Métodos: Estudo epidemiológico de base populacional realizado com dados de uma coorte prospectiva sobre condições de trabalho e saúde em Salvador, Bahia. Dados sobre saúde auditiva foram coletados em 2006 por entrevistadores treinados que aplicaram questionários individuais. Neste estudo, participaram todos os indivíduos com idade entre 21 e 50 anos que referiram possuir trabalho remunerado. As variáveis principais foram: perda auditiva, definida pela resposta à questão “Você sente que tem uma perda auditiva?”; exposição ao ruído, “Você já trabalhou em algum ambiente com muito barulho onde seria preciso gritar para que um colega a um metro de distância pudesse ouvir?”; e exposição a solventes, “Você já teve contato com solventes na sua vida de trabalho?”. Para avaliar a interação, a prevalência de perda auditiva foi estimada considerando-se quatro diferentes grupos: sem história de exposição a ruído ou solventes – grupo referente; expostos apenas a ruído; expostos apenas a solventes; e expostos aos dois fatores, caracterizando a exposição combinada. Foram estimadas as razões de prevalência e respectivos intervalos de confiança a 95%. Como medidas específicas foram utilizadas o Contraste de Interação (CI) e a Razão do Contraste de Interação (RCI). As análises foram conduzidas no programa estatístico SAS 9.4. O projeto do estudo foi aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados: Foram 1.197 os trabalhadores investigados neste estudo. A prevalência da perda auditiva variou de 8,2% no grupo referente - não expostos a ruído ou solventes -, a 28,0% no grupo de exposição combinada aos dois fatores. Comparando-se ao grupo referente, a prevalência no grupo de trabalhadores expostos apenas ao ruído (23,0%) foi quase três vezes maior (RP=2,82; IC95%: 2,18-3,64). Por sua vez, a perda auditiva foi 40% mais comum no grupo com exposição apenas aos solventes (11,4%) comparando-se ao grupo referente (RP=1,39; IC95%: 0,73-2,65). A partir desses resultados, a análise de interação indicou 26,3% como prevalência esperada de perda auditiva no grupo de exposição combinada a ruído e solventes. No entanto, 28,0% dos trabalhadores apresentava perda auditiva nesse grupo, excedendo a expectativa em 1,7 pontos percentuais, valor que corresponde ao Contraste de Interação. Verificou-se também excesso do risco devido à interação (RCI), mensurado em 0,20, a partir da estimativa da razão de prevalência considerando-se o grupo de exposição combinada (RP=3,43; IC95%: 2,43-4,82). Esses resultados caracterizam afastamento do modelo aditivo, positivos para a identificação de interação. Conclusão: Os resultados sugerem que o efeito combinado de ruído e solventes para a audição é maior do que a simples soma de seus efeitos isolados, indicando possível interação, em nível biológico, entre os fatores.

Palavras-chave:
 perda auditiva, ruído, solventes, epidemiologia